A reabilitação respiratória é um programa de exercícios respiratórios e de mobilidade que vão ajudar a pessoa com doença pulmonar a atingir um maior bem-estar, melhorando o seu nível de saúde. 

 Benefícios do treino respiratório: diminui a dispneia (falta de ar), melhora a eliminação e previne o acumulo de secreções, previne ou reverte atelectasias, otimiza a terapêutica broncodilatadora, melhora a resposta ao exercício, aumenta a resistência muscular, diminui a necessidade de acesso aos serviços de saúde, melhora o equilíbrio da pessoa com o seu meio envolvente, … 

O sistema respiratório permite o fornecimento de oxigénio ao sangue e a eliminação de dióxido de carbono através da ventilação pulmonar. 

Inspiração (entrada de ar nos pulmões) e expiração (saída de ar dos pulmões). 

Na inspiração o diafragma contrai-se, desce, fazendo aumentar o diâmetro vertical dos pulmões, e os músculos intercostais contraem-se, elevando as costelas, fazendo aumentar o volume da caixa torácica, a pressão atmosférica dentro dos pulmões diminui, obrigando à entrada de ar. 

Na expiração o diafragma relaxa, sobe, diminuindo o diâmetro vertical dos pulmões, e os músculos intercostais relaxam, baixando as costelas, fazendo diminuir o volume da caixa torácica, a pressão dentro dos pulmões aumenta, forçando a saída de ar. 

A amplitude destes movimentos vai diminuindo com a idade e o sedentarismo. Logo, é necessário contrariar este processo, exercitando os músculos responsáveis pela ventilação pulmonar, assim como consciencializar a forma como se deve respirar: inspirar pelo nariz e expirar pela boca. 

A inspiração através do nariz permite: 

• uma melhor purificação do ar inspirado, à custa dos pelos e, nomeadamente, da mucosa que reveste as narinas e as fossas nasais (este tecido – a mucosa – produz muco, ao qual aderem impurezas contidas no ar inspirado); 
• uma melhor humidificação do ar inspirado, através do muco produzido pela mucosa; 
• um melhor aquecimento do ar, quando este está a uma temperatura inferior à do corpo, através do contacto com as paredes das vias respiratórias muito vascularizadas (ricas em capilares sanguíneos). 

A expiração deve ser efetuada pela boca, pois é o percurso mais rápido para a eliminação do ar. 

Respirar lenta e profundamente pode ajudar a acalmar e a relaxar o organismo, diminuindo assim a frequência dos batimentos cardíacos e melhorando a dispneia (falta de ar). 

Para iniciarmos qualquer plano de reabilitação respiratória necessitamos de tomar consciência da forma como inspiramos e expiramos. 

Exercício de consciencialização da respiração: 

• Primeiro expire pela boca (para expulsar o ar residual existente nos pulmões). 
• Seguidamente, inspire pelo nariz, com os lábios cerrados, profundamente (como quando cheira uma flor).  
• Expire pela boca com os lábios semicerrados (como quando se sopra uma vela). 
• Realize este exercício 2 vezes por dia, de manhã e antes de se deitar. 
• De cada vez faça 5 sequências, descanse 10 segundos, repita outras 5 sequências.  

Exercícios de reabilitação respiratória 

Ciclo ativo respiratório (é utilizado para mobilizar e limpar o excesso de secreções nos brônquios). 

É composto por 3 fases: exercícios de respiração diafragmática, exercícios de expansibilidade torácica, exercícios de expiração forçada. 

1. Exercício de respiração diafragmática (deitado, sentado ou em pé; ciclos de 5 a 10 vezes):

• Coloque uma mão sobre a barriga, contraia os músculos abdominais, expire pela boca com os lábios semicerrados, forçando a saída do ar residual, tendo a perceção da contração do abdómen. 
• Coloque uma mão sobre o peito e a outra sobre a barriga, inspire profundamente pelo nariz, tendo a perceção da imobilização do tórax e da subida do abdómen. 
• Continuando com uma mão sobre o peito e a outra sobre a barriga, expire pela boca, contraindo os músculos abdominais forçando a saída máxima de ar, com os lábios semicerrados, tendo a perceção da contração do abdómen. 

2. Exercício de expansibilidade torácica

2.1. Exercício de expansibilidade torácica (deitado ou sentado; ciclos de 5 a 10 vezes): 

• Deite-se com a barriga para cima, colocando uma almofada debaixo dos joelhos. 
• Coloque as mãos atrás da cabeça, com os cotovelos paralelos e aproximados, inspire – Expire prolongadamente, fazendo voltar os cotovelos à posição inicial. 

2.2. Exercício de expansibilidade torácica (deitado; ciclos de 5 a 10 vezes): 

• Deite-se com a barriga para cima, colocando uma almofada debaixo dos joelhos. 
• Coloque os braços paralelos ao corpo, inspire profundamente, rodando os braços esticados até ficarem paralelos à cabeça. 
• Expire prolongadamente, fazendo voltar os braços à posição inicial. 

2.3. Exercício de expansibilidade torácica (deitado sobre o lado direito/esquerdo; ciclos de 5 a 10 vezes): 

• Posicionamento em decúbito lateral direito/esquerdo: deite-se sobre o seu lado direito, o braço direito deve estar afastado do tronco de forma confortável e relaxada, a perna direita deve estar em extensão e a esquerda ligeiramente fletida, ficando o braço esquerdo esticado sobre o tórax e a anca. 
• Quando inicia a inspiração vai acompanhando com a elevação do braço esquerdo passando a mão por cima da cabeça, alongando a parte do tórax esquerdo na expiração, de forma lenta e com os lábios semicerrados, acompanha com a descida do braço até à posição inicial. 
• Repita o mesmo exercício sobre o outro lado do tórax. 

2.4. Exercício de expansibilidade torácica (sentado, cadeira ou cama; ciclos de 5 a 10 vezes): 

• Sente-se com os pés apoiados e ligeiramente afastados, costas direitas e os braços apoiados sobre as coxas. 
• Quando inicia a inspiração vai acompanhando com a elevação dos braços, estes devem estar em extensão e elevam-se acima da cabeça ou até onde lhe for possível, até ao término da inspiração, seguidamente vai expirar de forma lenta com os lábios semicerrados, e os braços devagar voltam à posição inicial. 

2.5. Exercício de expansibilidade torácica (de pé ou sentado na cadeira/cama; ciclos de 5 a 10 vezes): 

• Sente-se com os pés apoiados e ligeiramente afastados, costas direitas e os braços apoiados sobre as coxas.  

Ao inspirar eleve o braço, direito, passando a mão por cima da cabeça, fazendo uma ligeira inclinação do tronco para a esquerda, na expiração de forma lenta e com os lábios semicerrados, inicia a baixar o braço voltando o braço e o tronco à posição inicial. 

Repita o exercício com a mobilização do outro braço. 

Tosse eficaz 

O ato de tossir está sob controlo voluntário e/ou involuntário e tem as seguintes fases: irritativa, inspiratória, compressiva, expiratória e de relaxamento. 

Quanto maior for a fase inspiratória, maior será o volume torácico e a dilatação dos brônquios, o que levará a um aumento da eficácia da tosse.  

 Na fase compressiva há um fechamento da glote (+- 0.2s) e ativação do diafragma, dos músculos da parede torácica e dos abdominais, aumentando a pressão intratorácica pela compressão dos pulmões e das vias aéreas inferiores.  

Na fase expiratória há uma abertura súbita da glote com a saída de ar em alta velocidade (ocasionando o som característico da tosse) de forma a eliminar para o exterior as secreções ou outros fatores irritativos. 

Na fase de relaxamento toda a musculatura relaxa e as pressões voltam aos níveis basais. 

3 Exercícios de expiração forçada (treino da tosse eficaz): 

3.1. Sente-se com os pés apoiados e ligeiramente afastados, costas direitas. 

• Coloque uma mão no abdómem outra no tórax superior. 
• Inspire lenta e profundamente pelo nariz, sustenha o ar 2s e expire lenta e prolongadamente pela boca com os lábios semicerrados (4x). 
• Inspire lenta e profundamente pelo nariz, sustenha o ar 2s e expire com boca aberta com o máximo de força durante o maior período que conseguir. 

3.2. Sente-se com os pés apoiados e ligeiramente afastados, costas direitas.  

• Segure num bastão com as duas mãos ligeiramente afastadas.  
• Inspire lenta e profundamente pelo nariz, elevando o bastão acima da cabeça, sustenha a respiração 2s e expire com força com a boca aberta no maior tempo que conseguir, ao mesmo tempo que baixa o bastão. 

3.3. Sente-se com os pés apoiados e ligeiramente afastados, costas direitas.  

• Estique os braços para a frente juntando as palmas das mãos, enquanto inspira lenta e profundamente afaste os braços, sustenha a respiração 2s e expire com a boca aberta de forma rápida, levando os braços à posição inicial. 

3.4. Sente-se com os pés apoiados, cruze os braços sobre o abdómem e o tronco ligeiramente fletido à frente. 

• Inspire pelo nariz lenta e profundamente, sustenha a respiração 2s e de seguida tussa 3x, fazendo ligeira compressão abdominal com os braços. 
• Seguidamente coloque o tronco em posição normal, desfaça o cruzamento dos braços e coloque as mãos sobre as coxas e inspire lentamente pelo nariz e expire lentamente pela boca 3x. 

Em reabilitação respiratória, os programas são compostos por exercícios com técnicas desobstrutivas (exercícios atrás descritos), para aumentar os volumes pulmonares e levar á expulsão das secreções e exercícios com técnicas reexpansivas do tórax, para melhorar a mobilidade e assim facilitar a respiração profunda (espirómetro de incentivo de volume ou espirómetro de incentivo de fluxo), entre outros. 

O espirómetro de incentivo é um aparelho, também chamado de incentivador respiratório, que estimula as inspirações profundas, gerando uma maior ventilação alveolar. A espirometria de incentivo induz a chamada Inspiração Máxima Sustentada 

Espirómetros de incentivo a volume (EV) – apresenta a capacidade inspiratória alcançada e de expansão pulmonar. Visualmente observam-se as escalas que estão no próprio aparelho através de um pistão presente no seu interior. 

Espirómetros de incentivo a fluxo (EF) – apresenta o fluxo inspiratório que é gerado pela pessoa durante a aplicação da técnica. O fluxo é demonstrado através das esferas encontradas no interior do cilindro que são elevadas e sustentadas conforme o desempenho da pessoa no exercício. 

Técnica no exercício com espirómetro de incentivo (sentado, cadeira ou cama; ciclos de 5 a 10 vezes, com pausa entre os ciclos; 2 a 3x dia): 

• Sente-se com os pés apoiados e ligeiramente afastados, costas direitas, segure o espirómetro na posição vertical. 
• Encaixe o bocal do aparelho nos lábios, preenchendo todo o espaço em seu redor. 
• Inspire lenta e profundamente, observando no espirómetro as marcações, do pistão ou esferas, e a indicação de referência. 
• Mantenha em fase de inspiração pelo maior período de tempo que poder. 
• Retire o bocal da boca e expire lentamente. 
• Descanse por alguns segundos. 

Outros cuidados a ter em atenção 

Todos os programas de reabilitação respiratória devem ser complementados com exercícios de recondicionamento ao esforço, de fortalecimento muscular e de reeducação postural.  

O exercício aeróbico é excelente para aumentar a resistência física, pois estimula a circulação, o funcionamento do coração e dos pulmões, para além de trabalhar muitos grupos musculares. Evite o sedentarismo, mexa-se pela sua saúde. 

Faça pequenas caminhadas, segundo a sua tolerância, iniciando com períodos de 5 a 10 minutos e vá aumentando progressivamente até conseguir fazer entre 30 a 60 minutos por dia. 

Não se exponha a grandes variações de temperatura. Evite as caminhadas em dias de grande calor ou excessivo frio. 

Não realize exercício físico em locais com muita poluição atmosférica. 

Se estiver hospitalizado, mas poder caminhar, deambule pelo serviço pelo menos duas vezes por dia, indo progressivamente aumentando o tempo dessa caminhada. 

Caso esteja em repouso no leito, faça exercícios, mexendo todas as articulações que poder, contraia os músculos das pernas e descontraia, contraia os glúteos e descontraia, 5x seguidas e várias vezes ao dia. 

Sempre que possível colabore em todas as atividades de vida diária que lhe são propostas no hospital. 

Aumente a ingestão de água, uma boa hidratação torna as secreções mais fluidas facilitando a sua saída. 

Tenha uma boa alimentação, variada e rica em fibras (legumes e frutas frescas), evite alimentos que levem à distensão abdominal (formadores de gases), coma devagar e mastigue bem os alimentos. 

Para aumentar o apetite e diminuir a fadiga: repouse um pouco antes das refeições; escolha alimentos de fácil preparo e fácil digestão; coma pouco de cada vez, mas mais vezes ao dia; escolha alimentos com alta densidade nutricional. 

Respire melhor para aumentar a sua capacidade pulmonar e evite o sedentarismo pela sua saúde. 

Informação elaborada pelo Serviço de Pneumologia do Hospital de Braga

FI.PNEU.012