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Doença Renal Crónica

O Século XXI afigura-se-nos como um século de promessas e receios. Da evolução prometida, da Inteligência Artificial, aos progressos na engenharia de tecidos e na biomedicina, com o advento de fármacos cada vez mais eficazes. Fruto de uma medicina que prolonga a vida mas não cura, as populações envelhecem acumulando patologias. É por isso, este século, o da doença crónica.

A Doença Renal Crónica (DRC) é caracterizada pela presença de alterações da estrutura ou função renal, por um período superior a 3 meses, com implicações na saúde do indivíduo. Estas alterações instalam-se, muito frequentemente, de forma insidiosa, sem sintomas, não sendo percebidas pelo doente, o que faz com que seja subdiagnosticada ou tardiamente diagnosticada, já em fases avançadas.

As Nações Unidas estimam que 850 milhões de pessoas sejam portadoras de DRC e esta, constitui-se já como a 11.ª causa de mortalidade (1.2 milhões de mortes/ano), sendo a 6.ª causa de morte com maior ritmo de crescimento.

A Diabetes Mellitus constitui-se como a 1ª causa de DRC, seguindo-se a hipertensão arterial. Existem outras causas, ainda que menos frequentes: causas hereditárias, como a doença poliquística, doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistémico, e outra patologia renal primária, como as glomerulonefrites.

A presença de DRC num doente com outra patologia crónica incrementa de forma significativa morbilidade e mortalidade, interferindo com a qualidade de vida e a autonomia do doente. Nas fases mais avançadas, a hemodiálise, a diálise peritoneal ou o transplante renal são vitais. Sem eles o doente não sobrevive.

Os custos associados à diálise e ao transplante também não cessam de aumentar, afetando de forma severa os orçamentos de saúde nos países que conseguem propiciar aos doentes estes tratamentos.

Impõe-se por isso a adoção de medidas adequadas. Acompanhando o preconizado pelas Nações Unidas (“A Call To Action On Kidney Disease”), iniciaram-se programas de rastreio da DRC em grupos de risco, uma vez que o rastreio aleatório não demonstrou ser custo-efetivo.

São considerados grupos de risco os doentes com diabetes, hipertensão, doença cardiovascular, obesidade, portadores de doenças autoimunes e doentes com outra patologia crónica conhecida. Doentes com história de toma crónica de medicação com toxicidade renal, como os anti-inflamatórios não esteróides, lítio, entre outros, também deverão ser rastreados. A presença de DRC na família é também motivo para um rastreio.

Os testes realizados no rastreio são simples. A pesquisa de albumina e de elementos anormais na urina podem ser realizados com tiras-teste apropriados. Deve ser efetuada uma colheita de sangue para determinação da creatinina. Testes adicionais devem ser ponderados em grupos específicos.

As medidas a instituir e que pretendem a prevenção da DRC ou o retardar do seu agravamento, incluem a promoção do autocuidado, o adequado controlo tensional e da diabetes, prevenindo-se o excesso de peso e a obesidade, com restrição na ingestão de sal e bebidas alcoólicas. A alimentação deve ser variada e rica em vegetais e frutas. Hábitos nocivos como o consumo de álcool e tabaco e a toma abusiva de medicação tóxica para o rim são também desaconselhados.

Existe medicação que permite retardar a progressão da DRC. Nas fases mais avançadas, o tratamento dirigido a algumas das suas complicações (anemia, distúrbios minerais e ósseos associados à doença, entre outros) é necessário. Nesta fase já é recomendado o seguimento em consulta de Nefrologia.

A DRC integra-se numa rede de doenças crónicas que mutuamente se influenciam, por isso os benefícios expectáveis com a prestação de cuidados adequados vão muito para além dos “benefícios renais”. Influenciam outras patologias e doenças, determinam importantes reduções de mortalidade e associam-se a significativos ganhos de qualidade de vida.

Trata-se, portanto, de uma batalha que é forçoso vencer, o que será possível com uma articulação de cuidados e com a colocação do doente/utente no centro destes.

Fazendo-o participar ativamente nas medidas que o beneficiam e nos beneficiam a todos.

António Ramalheiro

Nefrologista do Hospital de Braga

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