A Fibrose Quística (FQ), também conhecida como Mucoviscidose, é uma doença crónica, genética, causada por uma mutação no gene que codifica a síntese de uma proteína, a Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator (CFTR).

A mutação causa mau funcionamento desta proteína que transporta sódio e cloro através das membranas das células. Tem hereditariedade recessiva, isto é, os pais não têm a doença, mas são portadores duma cópia defeituosa nos seus genes e ambos transmitem esta cópia resultando num par defeituoso.

Desde a descoberta do gene CFTR em 1989, foram descritas mais de 2000 mutações. Em Portugal, a prevalência ao nascimento está estimada em 1:7000 recém-nascidos.

A FQ afeta todos os órgãos que expressam o gene CFTR, nomeadamente as vias aéreas, o pâncreas, o intestino, o trato biliar, os canais deferentes, as glândulas sudoríparas e salivares.

Sintomas mais frequentes da Fibrose Quística

Os sintomas são mais frequentes e mais graves a nível dos pulmões, onde as secreções brônquicas muito espessas, difíceis de eliminar, causam infeções respiratórias de repetição.

No sistema digestivo, o pâncreas não segrega as enzimas digestivas em quantidade suficiente para a digestão dos alimentos, com consequente dificuldade em aumentar de peso e estatura, fezes abundantes, gordurosas e de cheiro fétido.

Nas glândulas sudoríparas, não ocorre a absorção de cloreto e sódio, pelo que o suor tem excesso de sal. Este sintoma é utilizado no teste de suor, o mais usado no diagnóstico da FQ.

A forma de apresentação, a gravidade e a evolução clínica da doença são variáveis e em grande parte dependentes do tipo de mutação que o gene tem. Assim, a FQ pode expressar-se como uma doença grave no recém-nascido ou com sintomas ligeiros e apenas ser diagnosticada na idade adulta.

Como é realizado o diagnóstico da Fibrose Quística?

Muitos sintomas são tardios, contudo o diagnóstico pode ser realizado precocemente. O exame de primeira linha é o teste do suor, teste simples e indolor que quantifica  o ião cloreto no suor.

A presença de níveis elevados deste ião implica a realização de um estudo genético para pesquisa de mutações do gene CFTR.

Desde 2013, a FQ está incluída no painel de doenças do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce (“teste do pezinho” realizado entre o 3º e o 6º ano de vida).

A Fibrose Quística tem cura?

A FQ ainda não tem cura. O tratamento evoluiu bastante nas últimas décadas e visa minimizar o impacto da doença nos órgãos mais atingidos.

Os principais objetivos são a educação do paciente e sua família, a prevenção, a deteção e o tratamento precoce de complicações broncopulmonares, digestivas, otorrinolaringológicas, entre outros.

A manutenção da função respiratória e de um bom estado nutricional resultam numa melhoria da qualidade de vida e do prognóstico da doença.

O transplante pulmonar é o último recurso, quando a doença progrediu muito e os pulmões já não podem desempenhar a sua função.

Os progressos na investigação, nomeadamente nos medicamentos moduladores da CFTR, que corrigem a doença a nível da proteína defeituosa CFTR, representam um avanço muito importante no tratamento da FQ e poderão alterar a progressão da doença de forma muito significativa.  

 A FQ, uma das doenças genéticas mais comuns, ainda é pouco conhecida. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são primordiais de forma a propiciar uma vida mais longa e de boa qualidade. A possibilidade do diagnóstico precoce através do rastreio neonatal tem contribuído consideravelmente para um melhor controlo da doença. Os avanços recentes na área da investigação são promissores em termos de futuro.

Augusta Gonçalves

Pediatra do Hospital de Braga