Não raras vezes, as Doenças Reumáticas (DR) são associadas ao avanço da idade e vulgarmente designadas como “reumatismo”. Na verdade, a palavra “reumatismo” esconde mais de uma centena de doenças diferentes, articulares e/ou orgânicas, muitas delas com início em idade jovem, com carácter crónico e evolução potencialmente grave.

Desde 1996, o Dia Mundial das Doenças Reumáticas é celebrado a 12 de outubro, tendo como principal objetivo a sensibilização para as DR entre a população, comunidade médica e decisores políticos, visando a melhoria das condições de saúde para os doentes que delas padecem.

As DR e músculo-esqueléticas, representam de acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de metade da prevalência de doenças crónicas em pessoas com idade acima dos 50 anos. Corroborando esses dados, o estudo EpiReumaPt, o maior estudo epidemiológico sobre as DR no nosso país, revelou que 56% da população portuguesa apresenta queixas reumáticas e/ou músculo-esqueléticas, apontando ainda um elevado subdiagnóstico na nossa população.

Além da elevada prevalência das DR na população portuguesa, importa refletir sobre a pobre qualidade de vida e baixos índices funcionais com que os doentes lidam quando não tratados/acompanhados adequadamente. Não se trata apenas da dor ou incapacidade para realizar determinada tarefa, mas sim de um conjunto complexo de experiências negativas com impacto na capacidade de gerar receita própria, nas relações interpessoais e, acima de tudo, na saúde com dano muitas vezes irreversível.

A própria saúde mental parece ser mais afetada nos doentes com patologia reumática, sendo reportadas taxas superiores de patologias, como ansiedade e depressão, nessas populações.

Do ponto de vista económico, estas doenças encontram-se entre as principais causas de anos vividos com incapacidade e estima-se que sejam responsáveis por mais de mil milhões de euros de custos para o estado na vertente laboral e de segurança social que se justificam pelo elevado absentismo, baixa produtividade e reformas antecipadas.

Nos últimos anos a evolução científica tem permitido o desenvolvimento de fármacos cada vez mais eficazes no tratamento das DR. Desta forma, torna-se de extrema importância a referenciação precoce, o acompanhamento especializado e o tratamento adequado. Em conjunto, estas medidas possibilitam uma melhoria significativa na qualidade de vida, saúde e na capacidade funcional destes doentes.

As múltiplas dimensões das DR têm tornado a data de 12 outubro um palco para a sua recordação em prol duma melhoria dos cuidados de saúde prestados e onde os doentes com patologia reumática podem ver os seus interesses reforçados.

O Serviço de Reumatologia do Hospital de Braga EPE associa-se a esta causa com o objetivo de uma vez mais, apontar os holofotes para este tema junto da população e da comunidade médica, relembrando a importância do reconhecimento de sintomas e a necessidade da referenciação precoce nas DR.

Emanuel Costa

Médico do Serviço de Reumatologia do Hospital de Braga