Segundo a lei nº 100/2019, que aprova o estatuto do cuidador informal, publicada em setembro de 2019, considera-se cuidador informal principal a pessoa que acompanha e cuida de forma permanente, que com ela vive em comunhão de habitação e que não aufere qualquer remuneração de atividade profissional ou pelos cuidados que presta à pessoa cuidada. Considera ainda a figura do cuidador informal não principal que acompanha e cuida desta de forma regular, mas não permanente.
Estima-se que em Portugal haja 827 mil pessoas que dependem de cuidadores informais.
Segundo a Pordata, os dados disponibilizados relativos ao envelhecimento apontam para realidades preocupantes. O índice de sustentabilidade potencial, ou seja, o número de pessoas ativas (entre os 15 e 64 anos de idade) por idoso tem vindo a decrecer sucessivamente desde 1961, passando de 7,1 em 1961 para 3 em 2018. Ou seja, temos menos pessoas disponíveis para cuidar de outros. Para além disso as alterações sociais com a mulher no mundo do trabalho, retira das funções de cuidador, aquelas que antigamente assumiam este papel naturalmente. E não só os idosos que precisam de cuidadores informais.
A problemática dos cuidadores tem assumido uma relevância crescente nos dias de hoje. A recente publicação do estatuto dos cuidadores, assim como as diversas associações com inúmeras iniciativas, que têm surgido são prova disso. É sem dúvida uma problemática social que tem vindo a ter cada vez mais um peso e um preço.
Na era das tecnologias, das engenharias, dos computadores, das estatísticas, dos indicadores, temos tantos dados, tanta informação. Porque será que ainda são parcos os dados sobre cuidadores?
Importa por isso fazer algumas questões enquanto sociedade e possíveis candidatos a cuidadores.
O que temos concretamente? O que nos falta efetivamente? Será o suficiente o que temos?
Não, não é suficiente!
Temos um estatuto que muito pouco acrescenta!
Urge que os poderes políticos, económicos e legislativos se comprometam com a causa e tomem decisões.
Urge a definição e publicação dos diversos diplomas que ficaram pendente no estatuto do cuidador
Urge desenvolver a literacia nos profissionais e na população em geral relativa ao acesso dos recursos já disponíveis .
Urge desenvolver estratégias céleres para acesso a ajudas técnicas, como por exemplo cadeiras de rodas e camas articuladas.
Urge criar modelos alternativos de intervenção social como por exemplo uma planificação centrada na pessoa.
Urge criar sinergias e trabalho em equipa dos profissionais de saúde, assistência social e poder autárquico.
Urge não pôr nas famílias e cuidadores a responsabilidade dos cuidados que deverão ser dos cuidadores formais / profissionais de saúde
Urge desenvolver uma rede de apoio para permitir que o cuidador não abdique de viver a sua vida, que possa ter momentos de qualidade.
Urge que o descanso do cuidador preconizado e previsto na Rede Nacional de Cuidados Continuados, seja acessível e um recurso verdadeiramente disponível para aqueles que dele necessitam antes de chegarem à exaustão física e emocional.
Urge desenvolver valores morais, sociais e laborais de apoio e proteção à pessoa que necessita de dela cuidem.
Urge criar e desenvolver estratégias habitacionais alternativas, nomeadamente o modelo residencial colaborativo (Cohousing), em que a partilha de apoio e serviços torna mais sustentável o sistema.
Importa não esquecer que em qualquer idade podem surgir condições de saúde que limitem a nossa autonomia e dependência, fazendo de nós cuidadores ou pessoas cuidadas.
Em matéria de Cuidadores temos uma maratona pela frente; demos apenas os primeiros passos.