A doença celíaca é uma doença crónica provocada pela ingestão de glúten, sendo causada por uma desregulação do sistema imune, em pessoas geneticamente suscetíveis. A doença celíaca pediátrica é comum: atinge 1 em cada 100 crianças na maioria dos países Europeus. No entanto, a maioria continua sem diagnóstico.

O glúten é uma proteína que se encontra no centeio, cevada e trigo.  A sua ingestão em indivíduos geneticamente predispostos à doença, desencadeia uma reação imune que vai causar uma inflamação crónica na mucosa e submucosa do intestino delgado, com consequente atrofia das vilosidades intestinais e repercussões na absorção dos vários nutrientes, como o ferro, ácido fólico, cálcio e vitaminas lipossolúveis (vitaminas que precisam de gordura/lípidos para serem absorvidas, como por exemplo, vitamina A, D, E e K).

Sintomas de Doença Celíaca

Habitualmente, os sintomas de doença celíaca iniciam-se alguns meses após introdução do glúten na dieta, mas estes podem ocorrer em qualquer idade. Em crianças pequenas a apresentação clássica é uma diarreia prolongada, barriga inchada, perda de apetite e peso, irritabilidade e desnutrição.

Em crianças maiores e adultos as manifestações são geralmente mais leves: anemia por falta de ferro, fadiga crónica, perda de apetite, dor abdominal, obstipação crónica, atraso pubertário e/ou do crescimento, defeitos dentários, aftas orais recorrentes ou dores articulares.

Diagnóstico

Nas crianças e adolescentes com sinais e sintomas sugestivos de doença celíaca, a avaliação diagnóstica deve incluir a inicialmente a realização de análises de sangue com determinação do anticorpo antitransglutaminase (Ac AT) e imunoglobulina IgA. Se o Ac AT for positivo, o doente deve ser referenciado para consulta de gastrenterologia pediátrica, para complementação diagnóstica, nomeadamente pela realização de biópsia intestinal.

No caso de crianças assintomáticas mas pertencentes a grupos de risco para doença celíaca (parentes em primeiro grau -pais, filhos e irmãos- de celíacos, pacientes com Síndrome de Down, Turner e Williams, Diabetes tipo 1, Tiroidite autoimune e défice seletivo de IgA), devem inicialmente também efetuar a determinação de marcadores genéticos específicos (HLA DQ2 e DQ8).

Existe tratamento para a Doença Celíaca?

O único tratamento para a doença celíaca é o seguimento, para toda a vida, de uma dieta sem glúten.

Felizmente, o intestino tem uma grande capacidade de regeneração pelo que, se a dieta for cumprida, vai permitir o desaparecimento das manifestações clínicas assim como a normalização da mucosa intestinal, alcançando a remissão dos sintomas e prevenindo complicações futuras, como o aparecimento de outras doenças autoimunes como a diabetes e tiroidite.

No início, a elaboração de uma lista de compras e ementa diária pode demorar um pouco, mas com a prática, alguns cuidados e criatividade tudo se torna mais fácil e o celíaco vai poder comer uma enorme variedade de alimentos deliciosos.

Como em qualquer dieta, devemos preferir alimentos naturais, não processados, e assim com menor risco de contaminação por glúten. Nos alimentos processados, a leitura dos rótulos é essencial. A legislação da União Europeia obriga a que a presença de glúten esteja explicita nos rótulos. Deve escolher os produtos que contenham a menção “isento de glúten”.

Durante a preparação das refeições devem ser adotados alguns cuidados de forma a não haver contaminação cruzada por glúten, ou seja, quando um alimento sem glúten é exposto a um ingrediente que contém glúten.

Neste sentido, é fundamental lavar previamente todos os utensílios que entraram em contacto com alimentos com glúten; comece sempre por preparar o prato sem glúten; armazene os alimentos sem glúten separados dos restantes e higienize todas as superfícies que tenham entrado em contacto com glúten.

Fora de casa, os cuidados devem manter-se. Na escola, os funcionários devem ser informados das restrições e cuidados a ter na confeção das refeições.

Filipa Neiva

Pediatra do Hospital de Braga