Em que consiste o tratamento endoscópico de varizes esofágicas e gástricas?
O tratamento endoscópico de varizes esofágicas e gástricas tem como objetivo tratar hemorragia ativa e/ou prevenir futura hemorragia por rotura destas. As varizes esofágicas e esófago-gástricas tipo 1 são tratadas através de laqueação elástica ou, no caso desta não ser possível, esclerose endoscópica. As varizes esófago-gástricas tipo 2 e gástricas são tratadas através de injeção de cianoacrilato.
Como é feito o tratamento endoscópico de varizes esofágicas e gástricas?
Antes da endoscopia, o médico que realiza o exame observa as análises disponíveis e os exames prévios existentes. Idealmente este procedimento é realizado sob sedação por anestesista.
Na laqueação elástica a variz esofágica/esofago-gástrica é capturada com um pequeno elástico, resultando na sua oclusão. Os dispositivos usados dispõem de 7 elásticos. A sessão de laqueação começa com o tratamento da variz rota, no caso do exame ser realizado em contexto de urgência por hemorragia digestiva, ou com o tratamento das varizes mais próximas da junção esofago-gástrica e depois ascende proximalmente no esófago, até que todas as colunas de varizes médias a grandes tenham 1-3 elásticos, no caso de uma laqueação programada.
A esclerose endoscópica é usada em 2ª linha, quando a laqueação elástica falha. Na esclerose é injetada uma solução esclerosante (polidocanol a 2%) na variz e/ou na lateral desta, através de uma agulha de injeção endoscópica, de forma a ocluí-la.
Na injeção de cianoacrilato é injetada uma solução de 1:1 de cola de cianoacrilato e lipiodol na variz gástrica, através de uma agulha de injeção endoscópica, que polimeriza de imediato num coágulo firme.
Indicação para realizar tratamento endoscópico de varizes esofágicas e gástricas
O tratamento endoscópico de varizes esofágicas e gástricas é recomendado no caso de hemorragia aguda por rotura destas; na prevenção de hemorragia varicosa recorrente em doentes com episódios prévios de hemorragia varicosa no passado, em combinação com b-bloqueadores não seletivos; na prevenção de uma primeira hemorragia varicosa nos doentes com varizes médias-grandes, em alternativa aos beta-bloqueadores ou nos doentes intolerantes ou com contraindicações para tratamento médico com estes. O procedimento deve ser repetido a cada 2-8 semanas até as varizes serem erradicadas.
Preparação para o procedimento
O médico deverá ser informado antecipadamente sobre alergias, outras doenças e medicações em curso. É necessário que tenha realizado análises sanguíneas, com plaquetas e INR, nos últimos 3 meses. Doentes com <50.000 plaquetas ou INR>2 a abordagem deve ser individualizada, pode incluir transfusão de plaquetas pré-procedimento, mas geralmente não requer correção de INR com plasma fresco congelado ou crioprecipitado, uma vez que não há evidência de benefício clínico. Não deve tomar medicamentos que aumentem o risco de hemorragia: antiagregantes, anti – inflamatórios ou hipocoagulantes (ex.: Varfine®). Deverá mostrar ao seu médico assistente toda a medicação que toma e ele indicar-lhe-á como e quando suspender a medicação. Nunca suspenda medicação por sua conta e risco.
No dia da endoscopia digestiva terapêutica, não coma nada nas 8 horas, nem beba água nas 2 horas que antecedem o exame. Deverá regressar a casa sempre acompanhado.
Complicações e riscos
O tratamento endoscópico de varizes esofágicas e/ou gástricas é um procedimento seguro. Os problemas mais comuns são dor retroesternal e disfagia que resolvem em 1-2 dias. Complicações mais graves são raras.
Complicações da laqueação elástica e esclerose endoscópica: locais (ulceração, hemorragia, perturbações da motilidade, estenose e agravamento de gastropatia hipertensiva); regionais (perfuração esofágica e mediastinite); sistémicas (sépsis).
Complicações da injeção de cianoacrilato: locais (ulceração, hemorragia); regionais (hematoma mesentérico); sistémicas (sépsis e embolia).
Cuidados após o procedimento
Após a realização de tratamento endoscópico de varizes esofágicas e gástricas, deverá fazer dieta líquida nas 12h seguintes e progredir para dieta pastosa e posteriormente dieta habitual de acordo com tolerância. Anti-ácidos/inibidores da bomba de protões podem ser usados no alívio de eventual dor retroesternal e também para acelerar processo de cicatrização. O reinício de medicação antiagregante ou anticoagulante deverá ser realizado após contacto com o médico assistente. Se nos dias seguintes sangrar – vómito com sangue ou fezes negras – deverá recorrer ao Serviço de Urgência.
Informação elaborada pelo Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Braga
FI.GASTRO.060