Hoje, dia 12 de outubro, assinala-se uma vez mais o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. A propósito deste Dia, aborda-se um assunto tradicionalmente considerado apenas nos Cuidados de Saúde em final de vida, mas que pode e deve ser identificado e prevenido mais cedo: a xerostomia.  

A xerostomia consiste na sensação de secura da boca, que pode ser experienciada pela diminuição da produção de saliva, consequente ou não da diminuição ou interrupção da função das glândulas salivares. 

É um sintoma comum em doentes com doenças progressivas e avançadas e na população idosa. Está demonstrado que atinge cerca de 30% da população em geral, porém pode chegar aos 80 % em determinados doentes (cancro avançado). Apesar da maioria dos estudos terem sido realizados em pacientes de foro oncológico, a xerostomia está também presente noutras doenças crónicas. 

De acordo com alguns estudos a sensação de boca seca é o terceiro sintoma mais desagradável de entre os sintomas mais comuns na abordagem paliativa. 

As principais causas de xerostomia podem ser: fármacos, tratamentos antineoplásicos, doenças sistémicas e outras situações como a desidratação, o uso de oxigénio contínuo, respirar preferencialmente pela boca, etc. 

As manifestações podem ser: 

  • Orais de carácter funcional e orgânico – dificuldade em mastigar, falar, deglutir, alteração do paladar, cáries, doenças periodontais. 
  • Problemas das mucosas da boca – atrofia, fissuras, e úlceras dos tecidos moles, com sensação de dor.
  • Predisposição a infeções – a diminuição das funções antimicrobianas pode levar, por exemplo, ao aparecimento de uma infeção por fungo conhecida por candida albicans.
  • Halitose – a diminuição da saliva e das suas funções lubrificantes e solventes determina a retenção dos alimentos na cavidade oral. O aparecimento do mau hálito surge pela ação de alguns medicamentos e pela destruição das mucosas. 

Estas alterações podem ter impacto na capacidade de se alimentar e até na comunicação. As intervenções para aliviar o desconforto provocado pela xerostomia, passam por aumentar o fluxo salivar e diminuir a secura da boca, tratar a causa e avaliar o grau e repercussões da qualidade de vida destes doentes. 

Sendo assim a melhor abordagem a ter na xerostomia, tendo sempre em conta que cada caso é um caso, será: 

  • Higiene oral frequente e hidratar os lábios;
  • Chupar pequenos cubos de gelo (se possível e ter atenção às queimaduras de contacto);
  • Chupar rebuçados de vitamina C, ingerir frutas ácidas ou chupar rodelas de ananás em lata (desde que não tenha lesões na cavidade oral);
  • Incentivar a ingestão de líquidos no período diurno, que não contenham açúcar ou cafeína e evitar bebidas alcoólicas e tabaco;
  • Utilizar borrifadores com água, chá ou outro líquido a gosto;
  • Desde que possível, mastigar pastilhas elásticas para estimular a produção de saliva ou usar substitutos da saliva;
  • As próteses dentárias devem escovar-se após as refeições e retirarem-se deixando-as imersas numa solução desinfetante;
  • Rever medicação e discutir suspensão ou substituição de medicação que contribua para a sensação de boca seca;
  • Perante um elevado número de secreções em crosta na cavidade oral podemos usar uma mistura de um copo de água com uma colher de sopa de bicarbonato de sódio;
  • Dieta adequada – deve ser predominantemente líquida ou liquefeita, com preferência por alimentos cremosos e frios. 

Sendo a xerostomia um sintoma desconfortável e muito frequente nestes doentes, devem os cuidados à boca ser alvo de uma abordagem clínica cuidadosa, tendo em atenção que uma correta e eficaz intervenção é fundamental para a promoção da qualidade de vida e dignidade humana. 

Maria José Mendes

Enfermeira na Equipa Intra-hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos do Hospital de Braga