Sabe-se que uma alimentação correta pode prevenir doenças na idade adulta, por isso é crucial a educação alimentar desde as fases mais precoces da vida.

O leite materno é considerado pela Organização Mundial de Saúde e pela ESPGHAN o alimento ideal até aos 6 meses de idade, devendo ser usado em exclusividade até essa altura. Quando a amamentação não é possível, o lactente deve ser alimentado com leite adaptado, apropriado à idade e condição do mesmo. Após os 6 meses de idade, o leite materno deixa de ser capaz de suprir as necessidades nutricionais e calóricas do bebé, tornando-se necessário iniciar a diversificação alimentar, etapa que determinará a maioria das suas escolhas alimentares no futuro.

Não existe uma ordem rígida de introdução dos alimentos, no entanto devem-se ter em conta algumas recomendações existentes para que esta seja feita da forma saudável e adequada. Esta etapa é fundamental para o desenvolvimento infantil.

Além das questões nutricionais, mastigar, pegar na colher e estabelecer novos horários para as refeições, altera a dinâmica do dia-a-dia do bebé, preparando-o para novos comportamentos, mais próximos e integrados nas rotinas da família. Aos 12 meses de idade, pretende-se que ocorra a inserção na alimentação da família.

A introdução de novos alimentos deve ser gradual para que haja adaptação a novas texturas, novos sabores e podermos identificar eventuais intolerâncias/reações alérgicas. Os alimentos sólidos devem ser sempre oferecidos ao bebé através de colher.

A realidade socioeconómica e cultural de cada família deve ser sempre respeitada neste processo, no entanto, existem regras básicas que nunca deverão ser descuradas:

  • Começar por substituir uma refeição de leite por um caldo de legumes ou por uma papa, conforme recomendação do médico. Geralmente, um dos primeiros alimentos a ser introduzido é o cereal sob a forma de farinhas, as quais podem ser farinhas não lácteas, que são preparadas com o leite habitual do bebé, e farinhas lácteas, que são preparadas com água, pois já contêm leite. As recomendações atuais defendem que a introdução de glúten não deve ser feita antes dos 4 meses nem após os 7 meses, devendo ser sempre acompanhada pela manutenção do aleitamento materno.
  • O caldo de legumes deve ser preparado com 3 a 4 legumes claros, adicionados à batata ou arroz. De referir que existem alguns legumes como o espinafre, o nabo, a nabiça, a beterraba e o aipo que não devem ser oferecidos até aos 12 meses de idade devido à elevada quantidade de fitatos e nitratos. As leguminosas secas (feijão, ervilha, grão, lentilha, fava) podem ser introduzidas a partir dos 9/10 meses, sem casca e em pequena quantidade. A cada dose de sopa deverá ser adicionada uma colher de chá de azeite, em cru;
  • A partir dos 6 meses, deve-se introduzir a carne (30g/dia) através do caldo de legumes, inicialmente branca e só depois vermelha. Também o peixe deverá ser introduzido na alimentação (30g/dia), alternando com carne, a partir dos 6-7 meses. Introduzir peixe magro, fresco ou congelado: pescada, linguado, besugo entre outros. Os peixes gordos, como o salmão, só deverão ser introduzidos após os 10 meses (15g/dia);
  • A fruta deve ser fresca, madura, preferencialmente crua e ralada, oferecida como sobremesa, após a sopa de legumes. Pode começar-se com maçã, pera ou banana. Mais tarde, poderá ser adicionada ao iogurte;
  • O leite de vaca em natureza não deve ser introduzido antes dos 12 meses de idade. A partir dos 6 meses pode oferecer-se iogurte natural não açucarado de leite adaptado;
  • Habitualmente, a partir dos 9 meses pode introduzir-se a gema do ovo, cozida, em substituição da carne ou peixe. Começar por ½ da gema e só depois a gema inteira. Depois dos 12 meses pode dar-se ovo inteiro;
  • A dieta não deve conter sal nem açúcar adicionados;
  • Oferecer água simples no intervalo das refeições;

Qualquer ação em idade pediátrica deverá ser pensada e planeada lembrando-nos sempre de que “é mais fácil construir um menino do que consertar um homem!” (Charles ChickGovin).

Mafalda Noronha

Diretora do Serviço de Nutrição do Hospital de Braga