A dermatite atópica é uma doença comum. Estima-se que afete cerca de 10% das crianças, surgindo geralmente nos primeiros anos de vida mas, apesar de menos frequente, pode também ocorrer nos adultos. Nestes doentes, a pele reage exageradamente a diversos estímulos que os outros indivíduos suportam perfeitamente, surgindo inflamação e comichão da pele. De facto, existe uma incapacidade da pele para reter a água na epiderme devido a alterações das células que a constituem. Consequentemente estes doentes têm uma pele mais seca e reativa, permeável a vários agressores ambientais.

Na dermatite atópica, normalmente há uma alternância entre períodos de crise, caracterizados por pele vermelha, descamativa, com comichão intensa e períodos de doença silenciosa, sem outros sintomas além da secura da pele. Quando não são tratadas, as lesões evoluem de forma crónica, surgindo zonas de pele mais espessa e aspeto escurecido, a chamada liquenificação.

Nos bebés atinge principalmente a cabeça, face e membros, poupando a zona da fralda e a região à volta da boca e olhos. Nas crianças mais velhas as zonas mais tipicamente afetadas são o pescoço, prega dos cotovelos e dos joelhos, assim como mãos e pés.

A dermatite atópica tende a regredir até ao início da adolescência, mas alguns doentes permanecem com lesões ou voltam a exibi-las na idade adulta. Nesta fase, além das localizações da infância, são principalmente afetadas as pálpebras, lábios, mamilos, área genital e mãos. Curiosamente a dermatite atópica contribui para cerca de 80% das doenças de pele profissionais na vida adulta.

Adicionalmente, dada a “incompetência” da barreira de proteção da pele, estes doentes estão mais sujeitos a infeções víricas ou bacterianas da pele. Nos doentes, na maioria dos casos para além das manifestações cutâneas existe história pessoal ou familiar de asma ou rinite alérgica. A tendência para este tipo de doenças denomina-se atopia.

Esta entidade tem um impacto importante na qualidade de vida dos doentes. Por um lado, associa-se a lesões visíveis que limitam o bem-estar psicológico das pessoas afetadas. Por outro lado, pela comichão acarreta limitações no sono e noutras atividades do dia-a-dia.

Embora não se trate de uma alergia propriamente dita, é agravada por sabões, perfumes, climas frios, suor, banhos quentes, pelo que estes fatores devem ser evitados.

Alguns hábitos que ajudam a diminuir os períodos de crise são:

  • Não tomar banhos demorados nem com água muito quente.
  • Não utilizar sabões agressivos e produtos perfumados, optando antes por produtos de higiene específicos, mais suaves.
  • Aplicar hidratantes corporais sem perfume diariamente.
  • Evitar ambientes muito frios ou muito quentes e atividades que aumentem a transpiração.
  • Evitar as peças de lã ou fibras sintéticas. Optar pelo algodão, preferencialmente de cores claras.
  • Lavar as roupas novas antes da primeira utilização.
  • Usar detergente da roupa suave e evitar amaciador da roupa.
  • No caso dos bebés e crianças, manter as unhas sempre curtas para prevenir arranhões na pele em caso de comichão.

O tratamento em crise passa pela aplicação de medicamentos tópicos com propriedades anti-inflamatórias, receitados pelo médico dermatologista. Casos mais graves podem ainda necessitar de tratamento oral ou outros.

Embora não exista um tratamento que a cure, com estes cuidados, é possível, muitas vezes, manter a dermatite atópica controlada, para que não comprometa a qualidade de vida dos doentes.

Maria José Guimarães

Médica Interna do Serviço de Dermatovenereologia do Hospital de Braga