A cefaleia, dor localizada na cabeça, é um dos sintomas mais comuns das doenças do sistema nervoso, podendo ocorrer em qualquer idade. Constitui a terceira causa mundial de absentismo ao trabalho e, segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que até três quartos dos adultos apresentem cefaleias no período de um ano.

O cérebro propriamente dito não dói. No entanto, as estruturas envolventes, particularmente o couro cabeludo e os músculos epicranianos, sim. O mesmo acontece com elementos mais profundos como os vasos sanguíneos e as meninges.

Frequentemente, as cefaleias não têm uma lesão subjacente detetável, situação em que se denominam cefaleias primárias. Destas, as mais comuns são a cefaleia tipo tensão e a enxaqueca que, apesar de geralmente desprovidas de gravidade, podem ser incapacitantes pela sua frequência e intensidade.

Noutros casos, as cefaleias são secundárias a perturbações identificáveis e potencialmente corrigíveis, como a cefaleia devida ao uso excessivo de medicação (analgésicos simples, anti-inflamatórios, derivados opióides e ergotamínicos) e aquela causada por patologia da coluna cervical. Podem, portanto, resultar de uma situação tão vulgar quanto a contratura muscular causada pelo stress ou tão grave como a rotura de um aneurisma.

Esta variabilidade justifica a adequada valorização das queixas e, especialmente, dos sintomas acompanhantes. Se a cefaleia tiver um caráter explosivo, se for a pior de sempre, se tiver início durante um esforço, se piorar em posição de decúbito ou se se acompanhar de outros sintomas inaugurais, como dificuldade em falar, alteração da visão ou falta de força ou de sensibilidade nos membros, poderá justificar observação urgente.

A aquisição de estilos de vida saudáveis desempenha um papel primordial na prevenção das cefaleias. Evitar o jejum prolongado e a omissão de refeições, privilegiar horários de sono regulares, praticar assiduamente exercício físico e moderar o uso de analgésicos são algumas das medidas que se devem adotar.

Adicionalmente, em pessoas suscetíveis, determinados alimentos podem atuar como potenciadores da ocorrência de cefaleias, nomeadamente o vinho tinto, os queijos e enchidos, os citrinos e o chocolate, podendo eventualmente ser evitados, caso o doente reconheça a associação à cefaleia. Os alimentos frios, como os gelados podem desencadear cefaleias em algumas pessoas predispostas. Nestes casos, a dor é muito intensa mas de duração curta. A relação com a cafeína é mais complexa, atendendo a que tanto o excesso como a privação do café podem agravar as cefaleias.

Finalmente, o stress, uma presença cada vez mais constante nas nossas vidas, é também um dos principais fatores de risco para o surgimento e agravamento das cefaleias, podendo o seu papel ser minimizado com estratégias de relaxamento adaptadas a cada indivíduo.

Assim, pela sua repercussão pessoal, familiar e social, as cefaleias constituem uma prioridade nos serviços de saúde, devendo o doente ter conhecimento de que pode ser ajudado pelo seu médico assistente e, se necessário, ser referenciado a consulta hospitalar específica.

Sara Varanda

Neurologista do Hospital de Braga