A 14 de março de 2021 celebra-se o Dia Mundial do Rim, que, desta vez, vai dedicar-se à reflexão sobre o bem-estar das pessoas com doença renal crónica (DRC). A educação e envolvimento da comunidade são essenciais para que possamos prevenir, compreender e melhor cuidar das pessoas que sofrem desta doença.

A DRC, que afeta cerca de 10% da população mundial, define-se por qualquer alteração da função ou estrutura renal prolongada por mais de três meses. Existem múltiplas causas para a DRC, sendo as principais a diabetes mellitus e a hipertensão arterial, assim como perturbações do sistema imunitário, e doenças hereditárias. A DRC pode ser considerada uma doença sistémica, isto é, uma perturbação que afeta o organismo como um todo.

A função dos rins interfere, direta ou indiretamente, com a função de todos os nossos órgãos, ao manter o equilíbrio apropriado da água e dos minerais, eliminando tóxicos, e desempenhando inúmeras funções endócrinas e metabólicas. Com base no grau de perda de função renal, a DRC pode ser classificada em vários estádios. Nem todas as pessoas com DRC progridem para as fases mais avançadas, mas mesmo as que apresentam doença menos grave, têm um risco até 10 vezes maior de morte prematura.

É assim fácil de entender que existe uma ligação estreita entre a saúde como um todo e a saúde dos nossos rins. Se pudermos aplicar na nossa vida algumas medidas que promovam o nosso bem estar global, os rins também agradecem. Uma alimentação e hábitos de vida saudáveis (incluindo qualidade do sono e prática de exercício físico), com acompanhamento por profissionais de saúde, vai estimular o nosso bem-estar global, e prevenir também o aparecimento ou o agravamento das doenças dos rins.

Na DRC avançada, o acompanhamento especializado torna-se premente. Esta fase associa-se à presença de sintomas (cansaço, perda de forças e apetite, entre outros), à toma de vários medicamentos, à necessidade de restrições alimentares, e a várias outras condicionantes, que podem ser fonte de constrangimento e insatisfação.

Felizmente, os avanços na sociedade e na Medicina nos últimos anos, têm-nos ajudado a compreender melhor esta doença e a desenvolver recursos que permitem que as pessoas que sofrem de DRC possam ter uma vida mais longa e satisfatória.

O início das técnicas substitutivas da função dos rins (diálise peritoneal, hemodiálise e transplantação) representa quase sempre um impacto ainda maior na qualidade de vida dos doentes. Além de poderem manter alguns sintomas associados à doença renal, podem sofrer efeitos laterais e/ou complicações associadas à diálise, que agora passa a ocupar várias horas dos seus dias. Todos estes fatores se associam a sentimentos de descontrolo e perda de autonomia, com maior risco de ansiedade e depressão.

O acompanhamento por uma equipa multidisciplinar (de nefrologistas, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais e psicólogos, assim como fisioterapeutas e técnicos de exercício físico), numa abordagem integrada e complementar, permite criar relações de confiança com o doente e seus familiares, estimular e responder às suas questões, e encorajar o seu envolvimento na tomada das decisões que melhor respondam às suas crenças, valores e prioridades.

A maioria dos doentes quer viver bem, mantendo o seu papel na sociedade e na sua família, com o maior sentido de normalidade possível, e com sensação de controlo sobre a sua saúde e bem-estar. É muito importante manter a atividade profissional, ter tempo para a família e os amigos, praticar desporto ou viajar…

Conhecer a DRC e perceber o seu impacto social vai ajudar-nos a cuidar melhor de nós, e a apoiar quem precisa com mais empatia e solidariedade.

Sofia Rocha

Nefrologista do Hospital de Braga