A evolução científica e tecnológica do último século, acompanhou-se de irrefutáveis resultados nos índices de morbimortalidade materna e neonatais e numa elevada qualidade de cuidados.
A assistência à gravidez e ao parto deslocou-se para as instituições de saúde e hoje a maioria dos nascimentos ocorre em contexto hospitalar rodeada de profissionais especializados e meios técnicos sofisticados, associando-se a uma maior participação dos profissionais no processo e a um menor envolvimento da mulher, retirando-lhe parte do protagonismo que lhe é devido neste momento tão importante da sua vida.
No mundo atual, a ausência de referências de modelos de maternidade, deixa as futuras mães ansiosas e inseguras, muitas delas incapazes de decidir sobre o seu próprio corpo, de construir expetativas reais e fundamentadas. O excesso de informação de difícil compreensão e frequentemente contraditória e as fragilidades próprias desta fase da vida, fazem da mulher o alvo privilegiado de interesses diversos, deixando-a num mar de indecisões.
O empoderamento da mulher assenta na adoção de estratégias individuais e coletivas que permitem a eliminação de comportamentos que comprometem a sua saúde.
Algumas mulheres desvalorizam o seu poder natural capaz de gerar um novo ser, de garantir o seu desenvolvimento saudável e de assegurar as melhores condições na sua chegada ao mundo, mas a confiança para o fazer pode ser fomentada ou condicionada.
Recuperar o verdadeiro protagonismo da mulher na maternidade implica uma mudança radical na educação feminina muito antes da maternidade acontecer. A assistência obstétrica deve de ser centrada nas necessidades da parturiente e não apenas em procedimentos técnicos. A parturiente deve ser vista como uma pessoa individual, considerando todas as suas características como a personalidade, sentimentos, opiniões, crenças, desejos, aspirações, valores e dignidade, tendo sempre por base uma assistência digna e em segurança.
Nas suas orientações dirigidas à grávida, a OMS e o Serviço Nacional de Saúde fomentam a sua participação ativa e a responsabilidade de adquirir as ferramentas necessárias ao seu empoderamento
A educação ao longo da gravidez deve incluir objetivos centrados no desenvolvimento de competências de autonomia e de tomada de decisão, numa perspetiva de participação ativa da mulher em todos os processos significativos, disponibilizando conhecimentos que valorizem as suas competências naturais que a dotem de capacidades únicas para o parto, de conhecimentos acerca de todas as alterativas e capacidade critica e reflexiva para analisar com os envolventes.
Dentro das especificidades da sua situação, as opções que ela reconhece como sendo as que melhor se adequam, não desvalorizando, no entanto, os conselhos e as orientações daqueles que pelo seu conhecimento suportado em evidencias científicas atualizadas e competências adquiridas devem ser os seus melhores conselheiros.
As enfermeiras especialistas de saúde materna e obstetrícia pelo seu contacto privilegiado detêm uma responsabilidade acrescida na promoção do autoconhecimento e da autonomia, indispensáveis ao empoderamento da futura mãe. A vigilância da gravidez e a preparação para o parto são oportunidades únicas para desmistificar conceitos, reduzir os medos e ansiedades que condicionam, garantindo decisões seguras e confiantes.
Nesta viagem única da vida, descobrir o verdadeiro poder que existe em cada mulher, transformará a sua vida para sempre.