O Dia Europeu da Terapia da Fala, criado em 2004, é celebrado anualmente a 6 de março. Foi eleito como tema deste ano as Perturbações da Leitura e da Escrita.

Estas perturbações definem-se como dificuldades no processo de aquisição da leitura e da escrita, e estão relacionadas com altas taxas de insucesso escolar, uma vez que comprometem outras habilidades académicas, podendo também prejudicar as competências sociais e profissionais, interferindo com a autoestima da criança/indivíduo.

A aquisição destas competências é um processo cognitivo muito complexo e está diretamente relacionado com um desenvolvimento adequado da linguagem oral na criança, de uma forma mais específica com a área da fonologia.

Esta área é a responsável pela análise dos sons, traduzindo-se numa das bases mais importantes para a aprendizagem da leitura e da escrita. Através da interação/comunicação com os outros, a criança vai adquirindo o sistema fonológico da sua língua materna o que lhe permitirá perceber que a linguagem falada poderá ser segmentada e que os seus segmentos (palavras, sílabas e fonemas) podem ser manipulados. A capacidade de análise de sons e sua manipulação designa-se de consciência fonológica.

De acordo com diversos autores, a estimulação adequada da consciência fonológica deve iniciar-se precocemente, antes do ensino formal das competências da leitura e da escrita, já que poderá impedir a criança de alcançar os resultados escolares expectáveis para a sua faixa etária e para o ano escolar em que se encontra. A consciência fonológica e a aquisição da leitura e da escrita estão dependentes uma da outra uma vez que a capacidade de escrita exige que a criança tenha competência para refletir sobre os sons (fonemas) da sua língua e que seja capaz de os converter numa letra (grafema). E a capacidade de leitura traduz-se pelo processo inverso, em que a criança descodifica uma letra e atribui-lhe um som.

Vários estudos demonstram que o desenvolvimento da consciência fonológica acontece desde muito cedo, sendo progressivo ao longo da infância, embora ocorra variação individual, a qual está relacionada com o seu desenvolvimento cognitivo e com a exposição da criança a experiências linguísticas variadas. Ou seja, quanto mais exposta a brincadeiras/atividades que trabalhem a consciência das sílabas/sons, maior a probabilidade de sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita, funcionando como medida de prevenção para estas perturbações.

Um ambiente rico em histórias, música, lengalengas, adivinhas, jogos com rimas/sílabas, aumenta a consciência da criança sobre as unidades sonoras (sons) da sua língua, tornando-a capaz de brincar com as palavras e manipulá-las. Estas atividades promovem também o aumento do vocabulário, importante para a capacidade de interpretar e estabelecer significados. Qualquer atividade do dia a dia é uma oportunidade para desenvolver/estimular a consciência fonológica de forma lúdica.

Sendo a consciência fonológica um preditor de sucesso da aquisição da leitura e da escrita, o interesse pela leitura pode ser fomentado no bebé/criança através da exploração conjunta de livros, usando entoações melódicas e variando simultaneamente as expressões faciais e corporais. Nas famílias em que a leitura é uma atividade prazerosa e recorrente, encontraremos bebés/crianças mais interessados nessa exploração.

O terapeuta da fala é um dos profissionais responsável pela prevenção, avaliação e intervenção das perturbações da leitura e da escrita. Na presença de sinais de alerta ou dificuldades, procure informar-se junto deste profissional.

Maria João Vieira

Terapeuta da fala do Hospital de Braga

Patrícia Marques

Terapeuta da fala do Hospital de Braga