A época da gripe está a chegar. Impõe-se um esclarecimento entre o que é a gripe e a constipação ou resfriado. A sazonalidade sobreponível e o facto de ambas poderem concorrer para queixas de mialgias, tosse, espirros ou nariz entupido, garganta inflamada e, eventualmente, febre – leva a frequente confusão de conceitos e consequentes cuidados.

A gripe é uma infeção aguda, de etiologia vírica – por vírus Influenza – que afeta especialmente as vias respiratórias. A transmissão é feita tanto através de espirros ou tosse como por contacto direto com as mãos em superfícies contaminadas. Existe prevenção para a gripe, através da vacinação. Esta é sempre anual, durante os meses de outono/inverno e tenta cobrir as estirpes de vírus influenza que estão em circulação nesse ano, em face de um histórico dos anos recentes.

Clinicamente, a gripe apresenta-se com aparecimento de mal-estar repentino, dores de cabeça, dores musculares e/ou articulares e, quase de forma universal, febre alta. Sendo uma doença auto-resolúvel, os doentes com patologia crónica (insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crónica ou diabetes de larga evolução, por exemplo) ficam naturalmente sujeitos a maior risco de descompensação das suas condições crónicas. Pneumonia, apesar de raro, é a complicação mais frequente da gripe.

Para aliviar as queixas recomenda-se primordialmente o repouso em casa, a toma de paracetamol para baixar a febre e beber muitos líquidos ao longo do dia. Espera-se que em 3-5 dias a febre desapareça e o restabelecimento completo pode levar 1 a 2 semanas. Na persistência dos sintomas de gripe e/ou sinais ou sintomas que sugiram pneumonia (falta de ar ou dor torácica) ou descompensação de doenças crónicas deve-se recorrer ao médico assistente. As descompensações das condições crónicas podem necessitar de cuidados mais diferenciados, nomeadamente hospitalares.

Por outro lado, a constipação é uma infeção das vias respiratórias superiores provocada por vírus e, geralmente, é mais ligeira. Cerca de 200 vírus podem estar implicados, sendo o Rinovírus o mais frequente. A transmissão ocorre, habitualmente, de indivíduo para indivíduo, através do contacto com as secreções respiratórias da pessoa infetada. O contacto direto com essas gotículas (através das mãos, por exemplo) também é uma forma de transmissão.

Não existe vacinação e as queixas mais comuns, que surgem de forma mais gradual do que na gripe, são: a congestão e corrimento nasal intenso, comichão e vermelhidão no nariz, diminuição ou perda do olfato e do paladar, espirros, lacrimejo, dor de cabeça e/ou de garganta leve e, eventualmente, febre baixa.

Os sintomas tendem a atenuar-se com repouso, ingestão de líquidos, a não exposição ao frio e com utilização de soro fisiológico para aliviar a obstrução nasal. A toma de paracetamol ajuda a aliviar as dores e/ou a baixar a febre. Ainda mais raramente, uma constipação pode descompensar doenças crónicas prévias ou evoluir para alguma complicação.

Em ambas as condições, e para prevenir o contágio, deve-se lavar frequentemente as mãos, tossir ou espirrar para um lenço de papel ou para o antebraço. Nas primeiras horas e até ao final do primeiro/segundo dia, naturalmente se percebe se se trata de uma gripe ou de uma constipação.

De todas as formas, as medidas iniciais em ambos os quadros são o resguardo e o tratamento sintomático – não havendo habitualmente necessidade de recorrer, de imediato, a cuidados diferenciados de saúde.

Carlos Capela

Médico de Medicina Interna do Hospital de Braga