Somos enfermeiros, como todos aqueles que no dia-a-dia desenvolvem o seu trabalho sustentado num conjunto de saberes, adquiridos em contexto formativo. Um percurso que será sempre inacabado, emergindo numa atualização constante para acompanhar a permanente evolução científica e tecnológica da medicina, tão necessária ao Cuidar Humano.
Hoje, comemora-se o Dia Europeu dos Enfermeiros Perioperatórios, decidimos tirar a máscara que nos cobre o rosto diariamente, para podermos abrir as páginas do livro que regista o trabalho da Enfermagem Perioperatória.
Ao falarmos dos enfermeiros de salas de operações, permanece a noção de que o papel destes profissionais resume-se ao contacto escasso no tempo com o utente cirúrgico aquando da sua chegada ao Bloco Operatório e até à alta deste para o serviço de internamento. Pensamos que esta visão tem por base a especificidade do próprio serviço, Bloco Operatório, por este ser um local fechado, de acesso reservado somente aos profissionais que aí trabalham, sem a possibilidade de abertura ao exterior, despersonalizado e frio, onde cada ação e cada movimento é refletido, somente com o objetivo de manter um ambiente particularmente limpo, contudo consegue conceber mitos e receios.
Mas, por detrás desta cortina o Enfermeiro Perioperatório assume a responsabilidade de quebrar o frio e o receio, ao conhecer o utente cirúrgico antecipadamente, ao simplesmente chamá-lo pelo seu nome, o que gera confiança e o início de uma relação empática.
Neste sentido, o enfermeiro identifica as necessidades físicas, psíquicas, espirituais e sociais do utente cirúrgico/família, formulando diagnósticos, planeando intervenções individualizadas de cuidados que venham a satisfazer as necessidades de cada um.
A amplitude das intervenções dos enfermeiros perioperatórios remete-nos para um cuidar holístico em todos os ciclos da vida humana, desde a cirurgia intra uterina até ao pós término da vida, nos três tempos que definem o período perioperatório, pré, intra e pós-operatório.
Como tal, é essencial que estes profissionais sejam dotados de conhecimentos e competências especializadas, para exercer as suas funções dentro de um contexto de cuidados de enorme complexidade, especificidade e alta tecnologia, exigindo um permanente compromisso e dedicação ao cliente cirúrgico/família para atingir a excelência.
Diariamente, os enfermeiros perioperatórios desenvolvem um conjunto de atividades, que vão desde a avaliação, preparação e verificação de todo o equipamento e material necessário para a realização daquela cirurgia, para aquele cliente único, promovem uma comunicação efetiva com o utente cirúrgico e no seio da equipa interprofissional, de forma a garantir um ambiente cirúrgico de alta segurança, através de uma política de gestão adequada do risco, para que, na entrada do utente em palco esteja salvaguardada a sua segurança, o seu bem-estar físico, emocional e psíquico.
Ser enfermeiro de perioperatório é ser um artista diariamente, desnudamos as nossas emoções e pertences enquanto pessoas e vestimos as emoções, aflições e sentimentos daqueles, que em nós depositam toda a confiança nos momentos de maior vulnerabilidade. Somos ARTE quando os olhos brilham, o sorriso desaperta e a mão acaricia para o conforto, a segurança e o bem-estar de quem precisa de nós.
Somos o leme nas águas inseguras, nas incertezas, nos desafios de cada ser singular.