A intolerância à lactose define-se pela presença sintomas gastrointestinais associados ao consumo de alimentos que contêm lactose. É uma realidade atual, sendo uma das intolerâncias alimentares mais frequentes. Ocorre em cerca de um terço da população portuguesa.

A lactose é o principal açúcar presente no leite e nos seus derivados. Este açúcar é digerido pela enzima lactase no intestino delgado, originando glicose e galactose que são então absorvidos.

Quando nascemos, produzimos lactase, dado que nos alimentámos à base de leite. À medida que vamos substituindo o leite por outros alimentos, perdemos a capacidade de produzir lactase. Contudo, como se mantém o consumo regular de leite, mesmo na idade adulta, uma proporção considerável de indivíduos mantém capacidade de expressar esta enzima, tornando-se tolerante à lactose. No caso da intolerância à lactose, ocorre uma diminuição da produção da lactase e, consequentemente, uma acumulação de lactose não digerida no intestino delgado. Esta passa para o intestino grosso, onde estão presentes bactérias que vão fermentar a lactose e produzir gás, causando sintomas.

Os sintomas mais comuns são a dor e distensão abdominal, flatulência, náuseas e, menos frequentemente, diarreia. A dor pode apresentar-se como uma cólica abdominal e localiza-se, geralmente, na região central ou inferior do abdomén.

Os sintomas aparecem cerca de 30 minutos a 2 horas após a ingestão de alimentos que contêm lactose. Cerca de 20% dos intolerantes à lactose podem ter sintomas extra-intestinais, como dor de cabeça ou vertigens. A gravidade dos sintomas depende de vários fatores, tais como, a dose de lactose ingerida, o tempo de trânsito intestinal e a sensibilidade intestinal.

Para o diagnóstico, o mais importante é uma história clínica que demonstre uma relação entre a ingestão de lactose e o desenvolvimento de sintomas. Quando é difícil estabelecer um diagnóstico, pode ser realizado o teste respiratório de hidrogénio.

É um teste não invasivo que demonstra a produção aumentada de gás hidrogénio no ar expirado, após ingestão de lactose, indicando que esta é mal digerida no intestino. Também está disponível o teste genético, contudo este não permite a avaliação dos sintomas e, portanto, não é suficiente para orientar o tratamento, dado que um défice na produção de lactase, não indica, necessariamente, a presença de sintomas.

O tratamento consiste numa dieta com baixo teor de lactose e, geralmente, verifica-se melhoria dos sintomas em 5 a 7 dias após início da dieta. Não é recomendada a evicção total, pois a intolerância é dose-dependente, pelo que os doentes podem gerir a quantidade diária de lactose que podem ingerir sem desenvolver sintomas significativos.

Os medicamentos com lactase são pouco usados na prática clínica, porque a evicção da lactose é fácil e eficaz, podendo ser úteis em situações pontuais em que o doente pretende consumir maiores quantidades leite ou derivados.

Os alimentos com mais lactose são o leite, queijo, natas e a manteiga, sendo que existe muita oferta destes alimentos sem lactose. Devemos ter em atenção que, ao diminuir o consumo de produtos lácteos, devemos procurar outros alimentos ricos em cálcio, como os bróculos, a soja ou o grão de bico.

É importante realçar que a intolerância à lactose é diferente da alergia ao leite, em que há uma reação às proteínas do leite de vaca que ocorre, essencialmente, no primeiro ano de vida e tem como principais sintomas vómitos, ruborização da pele e diarreia.

Tânia Carvalho

Médica do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Braga